terça-feira, 16 de agosto de 2011

Material do Fórum sobre Análise do Desempenho Semestral - Parte 1


Sendo o BIA uma organização escolar em ciclos, pressupõe mudanças nas concepções de ensino, de aprendizagem e de avaliação e, consequentemente, na organização do trabalho pedagógico. Entende-se que essa reorganização implica na adoção de um trabalho pedagógicocoletivo em que todos os profissionais envolvidos planejem, executem e avaliem o processo de ensino e de aprendizagem de forma cooperativa, integrada e coletiva.

Nessa perspectiva, pressupõe uma gestão democrática do ensino em que a comunidade escolar, direção, profissionais da educação, especialistas, secretários, porteiros, enfim, todos os que atuam na instituição educacional, participem ativamente do seu cotidiano. Ressalta-se a necessidade do olhar para coletividade que a instituição educacional ciclada estimula e promove pelasua própria organização, ou seja, a instituição educacional ciclada necessita de um trabalho coletivo.


Para garantir sua consolidação, ressalta-se a importância da organização do trabalho escolar com base em um acompanhamento pedagógico sistemático que reconheça os papéis dos supervisores e dos coordenadores pedagógicos como elementos centrais desse acompanhamento e a importância da construção de registros para visualização da realidade, das necessidades e dos desafios de cada instituição escolar.

Professor, entenda esse acompanhamento pedagógico sistemático.

O acompanhamento pedagógico sistemático consiste em tornar vivíveis os avanços e as necessidades de cada estudante, de cada turma e da instituição educacional, como um todo, com o intuito de planejar ações que possibilitem a resolução dos problemas de ensino e de aprendizagem evidenciados nas atividades de acompanhamento aplicadas, tais como

observação, provas, exercícios, pesquisas, etc. Esse acompanhamento apóia a organização do trabalho pedagógico dentro de uma concepção de avaliação formativa, com vistas ao desenvolvimento dos diferentes letramentos por meio do uso da língua materna nas suas quatro modalidades: ouvir, falar, ler e escrever com compreensão.


O BIA necessita de um acompanhamento pedagógico sistemático que o sustente para que possa cumprir com os objetivos de uma organização ciclada. A ausência desse acompanhamento, leva ao risco de não promover o sucesso escolar de todos, quando se pode não perceber a amplitude dos problemas de aprendizagem e a não tomada de atitude em tempo de reverter o fracasso escolar.

Esse é um grande cuidado que se deve buscar para não tornar o ciclo sinônimo de reprovação disfarçada, pois num sistema de ciclos em que não há uma avaliação constante pode-se gerar lacunas de aprendizagem entre os estudantes e a geração da baixa auto-estima, quando não se oferece a assistência adequada às necessidades de cada estudante no momento certo. A ausência deste tipo de trabalho pode aumentar o fracasso e as desigualdades, como nos afirma Perrenoud (2006).

Para que esse acompanhamento tenha uma melhor abrangência apresenta, a seguir, quatro etapas para facilitar a organização desta ação.

1. Diagnóstico: ação que será a base para o planejamento do professor e subsidiará a elaboração de estratégias pedagógicas como os reagrupamentos e o projeto interventivo (princípios que serão abordados logo à frente), bem como justificará possíveis avanços e

outras ações didáticas cotidianas; é caracterizado pela definição e utilização de diferentes procedimentos avaliativos;

2. Construção de Registros: etapa que dará visibilidade e materialidade ao trabalho pedagógico;

3. Análise: momento ímpar de reflexão sobre os dados contidos nos registros;

4. Planejamento e Execução das Intervenções Pedagógicas: caracterizado pela tomada de atitudes em relação às necessidades levantadas;



Esse acompanhamento pedagógico sistemático, coordenado pelo supervisor e pelo coordenador pedagógico, com a participação efetiva dos demais professores, deve ser entendido como um ciclo de ações contínuas e permanentes que permearão toda a organização do trabalho pedagógico.

Para a ampliação do entendimento dessas etapas você, professor deve acompanhar, em seguida, a descrição mais detalhada.


Diagnóstico



É a etapa do acompanhamento pedagógico sistemático onde se identifica o que cada estudante sabe, bem como o perfil da turma em todos os letramentos no que se refere ao desempenho ao longo das aprendizagens.


No processo educativo todas as ações desenvolvidas possuem uma ntencionalidade que necessita tornar-se visível a todos os agentes desse processo. Desta forma, precisamos:

  • Ter objetivos claros, ou seja, saber aonde se quer chegar e identificar quais as dimensões contidas nos objetivos pré-estabelecidos.

1. Oralidade (falar/ouvir): ampliação da competência comunicativa, produção oral textual;



2. Leitura: decifração, fluência e compreensão do texto como construção de sentido;



3. Escrita: aquisição do sistema de escrita e produção textual.


Nesse sentido, o professor precisa:

  • Entender que seu trabalho não se restringe à simples transmissão de conteúdos e memorização de informações;
  • Agir como facilitador das relações e problematizador das situações, provocando no outro a abertura para aprendizagem;
  • Desenvolver a capacidade de desafiar, de provocar, de contagiar, de despertar a vida no educando, o desejo, o interesse, para que possa ocorrer a interação educativa;


Numa educação participativa que busca a construção da significação, a exigência de clareza de objetivos não pode ficar restrita ao educador, o estudante deve ter objetivo também, para que sua ação seja intencional.
Para tanto, o estabelecimento de objetivos e a definição clara das dimensões que os compõem é ponto central.


Registro



O registro é a etapa onde os dados coletados são organizados de forma a tornar visível as necessidades de aprendizagens dos estudantes e que orientarão o planejamento, elaboração e execução das intervenções pedagógicas. Podem ser realizados de diversas formas, inclusive muitas você, professor, já utiliza, como os portifólios, os diários de bordo, as fotos, as planilhas de acompanhamento da turma, os gráficos de rendimento, os relatórios e tantos outros que facilitam seu acompanhamento.


Os registros avaliativos precisam estabelecer vínculos com o processo de construção do conhecimento e estar embasados na memória compreensiva, por isso é preciso ressaltar a importância desta memória no contexto destes registros. Segundo Warschauer (2001), registros com esta natureza constituem um artesanato intelectual que deve ser realizado

diariamente através da prática da memória compreensiva, para não ser repetitivo e mecânico. Escrever a memória da aula, a sua apreciação daquele momento não é só a recordação do aprendido, mas um ponto de partida para realizar novas aprendizagens.


Nessa perspectiva, o registro possibilita o resgate da memória. É uma forma de arquivo das vivências; retomá-las posteriormente, significa revisitá-las e, a partir daí, mantê-las, revê-las, mudá-las ou, ainda, compreender o que aconteceu no trabalho pedagógico para, de alguma maneira, intervir na realidade da ação educativa registrada. As Diretrizes de Avaliação da SEDF (2008) afirmam, também, que o Registro constitui elemento essencial do processo avaliativo” que concebe “formas de registros sistematicamente, e não somente ao final de um período, bimestre ou semestre."


Por isso, professor, o trabalho de registro quando realizado de forma consciente possibilita confrontar processos cognitivos, estabelecer conexões no campo da aprendizagem e compreender melhor o processo educativo. À medida que se desenvolve a observação dos estudantes, passasse a registrar, analisar e refletir sobre o trabalho pedagógico, e poderemos obter uma aproximação maior da realidade trabalhada.
O registro deve servir de suporte ao trabalho coletivo da escola, por meio da supervisão e da coordenação pedagógicas. As avaliações externas, como Provinha Brasil, SIADE e IDEB, também devem fazer parte do acervo de dados da proposta pedagógica da instituição educacional.



A proposta pedagógica é o primeiro registro a ser construído pela instituição educacional, já que orienta todas as ações educacionais. Veiga (2005) afirma que sua elaboração supõe rupturas com o estado atual das coisas e promessa com novos modelos de organização pensadas no “chão da escola” pelas pessoas que nelas estão de forma autônoma.


Registrar pressupõe uma concepção de educação na qual esse registro está fundamentado e quais intencionalidades permeiam o ato de registrar para, posteriormente, materializá-lo sob a forma grafada. A concepção do BIA reclama este compromisso de toda a instituição educacional com todos os sujeitos para a democratização da aprendizagem.

Hadji (2001, p.22) afirma que "é a vontade de ajudar qua, em última análise, instala a atividade avaliativa em um registro formativo” e Freire (2006) quando conclui que “o registro é instrumento para a construção da competência desse profissional reflexivo, que recupera em si o papel de intelectual que faz ciência da educação”.



Análise



É a etapa onde o professor e a equipe pedagógica refletem sobre o que se apresenta nos dados coletados, observando se o que foi ensinado foi aprendido pelo estudante. Nesse momento de análise busca-se a elaboração de intervenções para (re)orientar as ações de ensino em função das necessidades de aprendizagem.
Esse trabalho é essencialmente coletivo e deve expressar a realidade de cada instituição educacional tornando-se a construção da coletividade responsabilidade da equipe escolar.




Relação entre a ação e a reflexão do professor pesquisador


Fonte: Bortoni-Ricardo, 2008, p. 48.


Planejamento e Execução das Intervenções Pedagógica



É a etapa onde o professor e a equipe pedagógica buscam soluções para resolução das questões levantadas nas etapas anteriores. Elas se dão por meio de elaboração de rotinas, onde“o para que”, “o quê” e “o como fazer” devem estar materializados por meio das sequências didáticas, fechando assim, o ciclo da avaliação formativa - diagnóstico, registro e intervenção. Preconizando o que afirma Villas Boas (2008, p. 33) que “a avaliação formativa visa à aprendizagem do aluno, do professore ao desenvolvimento da escola.” Pois, nesse processo de avaliação todos os envolvidos aprendem.



Nesse contexto, o supervisor e o coordenador tornam-se sujeitos centrais para o êxito do desenvolvimento do acompanhamento pedagógico sistemático, uma vez que são responsáveis pela organização de todo o processo -, sem descaracterizar o papel do professor, compreendendo que se trata de um trabalho colaborativo em função da aprendizagem de todos os sujeitos envolvidos.

SEEDF. Estratégia Pedagógica do Bloco Inicial de Alfabetização - 2ª edição - Versão Experimental. 2010

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